quinta-feira, 19 de agosto de 2010

TRECHOS DE ÁLVARO DE CAMPOS

Não creio em nada senão na existência das minhas sensações;

Não tenho outra certeza,
nem a do tal universo exterior que essas sensações me apresentam.
Eu não vejo o universo exterior,
Eu não ouço o universo exterior,
Eu não palpo o universo exterior.
Vejo as minhas impressões visuais;
Ouço as minhas impressões auditivas;
Palpo as minhas impressões tácteis.
Não é com os olhos que vejo, mas com a Alma;
Não é com os ouvidos que ouço, mas com a Alma;
Não é com a pele que palpo, é com a Alma;
E, se me perguntarem o que é a alma,
Respondo que sou Eu.

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Quanto mais eu sinta,
Quanto mais eu sinta como várias pessoas;
Quanto mais personalidades eu tiver;
Quanto mais intensamente,estridentemente as tiver;
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas;
Quanto mais unificadamente diverso,dispersamente atento,
Estiver,sentir,viver,for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque,seja ele quem for, com certeza que é Tudo,
Fora d'Ele há só Ele, e tudo para Ele é pouco.

(Álvaro de Campos – heterônimo de Fernando Pessoa)

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