domingo, 22 de novembro de 2009

CONSELHO (Iyeyasu – Imperador japonês)


“A vida é como uma grande jornada com um grande peso,

seja teu passo lento e firme para evitar tropeços.
Persuade-te de que imperfeições e moléstias são a sorte natural dos mortais
e não haverá em ti sítio para o descontentamento e o desespero.
Quando surgirem em teu coração ambiciosos desejos,
recorda os dias de necessidade por que passaste.
Na clemência está a raiz da quietude e segurança que perduram.
Olha a cólera como teu inimigo.
Se só sabes o que é vencer e não sabes o que é ser vencido:
Ai de ti!
Mal irão as coisas!
Busca defeitos em ti mais do que nos outros.”

domingo, 15 de novembro de 2009

SOBRE O AMOR VERDADEIRO




“Se amas alguém, deixa-o em liberdade.

Se ele voltar, foi porque precisou.
Se não voltar foi porque precisou.”
(Escrito anônimo num muro em Buenos Aires)

“O amor verdadeiro, o amor amadurecido é união sob condição de preservar a integridade própria, a própria individualidade.
O amor é uma força ativa no homem; uma força que irrompe pelas paredes que separam o homem de seus semelhantes, que o une aos outros;
O amor leva o homem a superar o sentimento de isolamento e de separação, permitindo-lhe, porém, ser ele mesmo, reter sua integridade.
No amor ocorre o paradoxo de que dois seres sejam um e contudo permaneçam dois.
Mas que dá uma pessoa a outra?
Dá de si mesma, do que tem de mais precioso, dá de sua vida.
Isto não quer necessariamente dizer que sacrifique sua vida por outrem, mas que lhe dê aquilo que em si tem de vivo;
Dê-lhe de sua alegria, de seu interesse, de sua compreensão, de seu conhecimento, de seu humor, de sua tristeza – de todas as expressões e manifestações daquilo que vive em si.
Dando assim de sua vida, enriquece a outra pessoa, valoriza-lhe o sentimento de vitalidade ao valorizar o seu próprio sentimento de vitalidade.
Não dá afim de receber; dar é, em si mesmo, requintada alegria.
Mas ao dar, não pode deixar de levar alguma coisa à vida da outra pessoa, e isso que é levado à vida, reflete-se de volta ao doador;
Ao dar verdadeiramente, não pode deixar de receber o que lhe é dado de retorno.
Dar implica fazer da outra pessoa também um doador e ambos compartilham da alegria de haver trazido algo à vida.
Além do elemento de doação, o caráter ativo do amor torna-se evidente no fato de implicar sempre certos elementos básicos comuns a todas as formas de amor. São eles: cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento.
O amor é preocupação ativa pela vida e crescimento daquilo que amamos.
O cuidado e a preocupação implica outro aspecto do amor: o da responsabilidade.
A responsabilidade, porém, em seu verdadeiro sentido, é ato voluntário; é a resposta que damos as necessidades, expressas ou não expressas de outro ser humano.
Ser “responsável” significa ter de “responder”, estar pronto para isso.
A responsabilidade poderia facilmente corromper-se em dominação e possessividade se não houvesse um terceiro elemento do amor, o respeito.
Respeito não é medo e temor; denota, de acordo com a raiz da palavra (respicere=olhar para), a capacidade de ver uma pessoa tal como é, ter conhecimento de sua individualidade singular.
Respeito significa a preocupação de que a outra pessoa cresça e se desenvolva como é, implica a ausência de exploração.
Respeito, assim, é querer que a pessoa amada cresça e se desenvolva por si mesma, por seus próprios modos e não para o fim de servir-me.
Se amo a outra pessoa sinto-me um com ela, ou ele, mas com ela tal como é, não como eu necessito, como um objeto de meu uso.
É claro que o respeito só é possível se eu mesmo alcancei a independência. Se eu puder levantar-me e caminhar sem precisar de muletas, sem ter que dominar e explorar qualquer outro.
O respeito só existe na base da liberdade. O amor é filho da liberdade, nunca da dominação.
Respeitar uma pessoa não é possível, entretanto, sem conhecê-la.
Cuidado e responsabilidade seriam cegos se não fossem guiados pelo conhecimento.
O conhecimento seria vazio se não fosse motivado pela preocupação.
Há muitas camadas de conhecimento; o conhecimento que é um aspecto do amor é aquele que não fica na periferia, mas penetra até o âmago do outro.
O único meio de conhecimento completo está no amor, esse ato que transcende o pensamento, transcende as palavras. é o mergulho ousado na experiência da união.
Contudo, o conhecimento pelo pensamento, que é o conhecimento psicológico torna-se condição necessária para o pleno conhecimento no ato do amor.
Preciso conhecer-me e a outra pessoa, objetivamente, a fim de poder ver a sua realidade, ou melhor de superar as ilusões, o retrato irracionalmente desfigurado que tenho dela. Só se conhecer objetivamente um ser humano poderei conhecê-lo em sua essência última no ato de amor.”


(Erich Fromm – A Arte de Amar)



“Quem nada conhece, nada ama.
Quem nada pode fazer, nada compreende.
Quem nada compreende, nada vale.
Mas quem compreende, também ama, observa, vê...
Quanto mais conhecimento estiver inerente numa coisa, tanto maior o amor...
Aquele que acha que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo, como as cerejas, nada sabe a respeito das uvas.”


(Paracelso)









domingo, 8 de novembro de 2009

A QUEM POSSO CHAMAR DE EDUCADO – texto do filosofo grego Sócrates



A quem posso chamar de educado

Primeiro, aqueles que enfrentam bem as circunstâncias com que se deparam no dia a dia...
Depois aqueles que são honrados em suas relações com todos os homens, agüentando com facilidade e bom humor aquilo que é ofensivo para outros, então sendo tão agradável e razoável com seus companheiros quanto é humanamente possível...
Aqueles que tem seus prazeres sob controle e não acabam derrubados por suas infelicidades...
Aqueles a quem o sucesso não estraga, que não fogem do seu próprio eu, mas sim se mantém firmes, como homens desabedoria e sobriedade.

domingo, 1 de novembro de 2009

ANTES



Antes de ser o mais bonito, seja autêntico, e triunfará.

Antes de ser o mais inteligente, esforce-se mais, e conseguirá.
Antes de ser o mais bem vestido, seja simples, e encantará.
Antes de colecionar amores, procure o verdadeiro, e se realizará.
Antes de acabar diante de um amor perdido, valorize-se, goste mais de você.e não sofrerá.
Antes de mostrar que é um gênio. Mostre que é capaz de fazer o que os outros tem preguiça... e vencerá.
Antes de se sentir derrotado, pense que muitos desistem antes mesmo de começar.
E, se você chegou aonde está e não conseguiu o desejado... Não desanime.
Pois Deus fez abismos para que o homem compreendesse as montanhas;
fez o fogo, para que o homem valorizasse as águas.
E fez você, para que com ele descobrisse a vida que há pela sua frente, e encontrasse a felicidade
Portanto... Seja Feliz. Seja amigo... Seja amável...
E seja, antes de tudo... Você!
Faça de todo o ano o melhor ano de sua vida.
(Anônimo)

domingo, 25 de outubro de 2009

TRECHOS DE FERNANDO PESSOA



Há metafísica bastante em não pensar em nada,

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho sobre as causasse os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério.
O único mistério é haver quem pense no mistério
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais do que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa

......................................................................................

Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
......................................................................................

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que eu lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque se ele se fez para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus dele próprio?)
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

domingo, 18 de outubro de 2009

O Valor de Praticar


O VALOR DE PRATICAR
“O que faz do homem um grande artista, um grande escritor, um grande músico?
Prática.
O que faz do homem um grande homem?
Prática, nada mais.
O crescimento espiritual aplica as mesmas leis usadas pelo corpo e pela alma. Se um homem não exercita seu, jamais terá músculos. Se não exercita sua alma, jamais terá fortaleza de caráter, nem ideais, nem a beleza do crescimento espiritual.
O Amor não é um momento de entusiasmo.
O Amor é uma rica, forte e generosa expressão de nossas vidas – a personalidade do homem em seu mais completo desenvolvimento.
E para construir isso, precisamos de uma prática constante.
O que Cristo fazia na carpintaria?
Praticava.
Embora perfeito apreendia (...) E assim ele crescia em sabedoria, para Deus e para os homens.
Procure ver o mundo como um grande aprendizado de Amor, e não fique lutando contra aquilo que acontece em sua vida. Não reclame por precisar estar sempre atento, ser obrigado a viver em ambientes mesquinhos, cruzando com almas pouco desenvolvidas.
Esta foi a maneira que Deus encontrou para você praticar.
E não se assuste com as tentações. Não se surpreenda com o fato delas estarem sempre a sua volta, e não se afastarem – apesar de tanto esforço e tanta prece. É desta maneira que Deus trabalha sua alma.
Tudo isso o está ensinando a ser paciente, humilde, generoso, entregue, delicado, tolerante. Não afaste a mão que esculpe sua imagem, porque esta mão também mostra o seu caminho.
Esteja certo de que você está ficando mais belo a cada minuto que passa – e embora não perceba, dificuldades e tentações são ferramentas utilizadas por Deus.
Lembre-se das palavras de Goethe: ‘O talento se desenvolve na solidão; o caráter no rio da vida.’
O talento se desenvolve na solidão; com a prece, a fé, a meditação, a visão clara da vida.
Mas o caráter só pode crescer se fizermos parte do mundo. Porque é no mundo que aprendemos a Amar.

Trecho do livro “O Dom Supremo” de Henry Drumond

domingo, 11 de outubro de 2009

O que Vinícios de Morais, O Poetinha da Bossa Nova, pensava sobre seus Amigos



AMIGOS



“Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.


Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.


A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme que não admite a rivalidade.


Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mais enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!


Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto a minha vida depende de suas existências...


A alguns deles não procuro, basta saber que eles existem.


Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.


Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.


Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.


Mais é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.


E ás vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.


Se um deles morrer, eu ficarei torto de um lado.


Se todos eles morrerem eu desabo!


Por isso é que, sem que eles saibam, eu oro pela vida deles.


E me envergonho, porque essa minha oração é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.


Por vezes, mergulho em pensamento sobre alguns deles.


Quanto viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer....


Se alguma coisa me consome e me envelhece é que e roda furiosa da vida não me permite ter sempre o meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!


A gente não faz amigos, reconhece-os".







(Vinícius de Moraes)



Entrevista concedida pelo Dr. DRAUZIO VARELLA



Em entrevista dada pelo médico Dráuzio Varella, disse ele que a gente tem um nível de exigência absurdo em


relação à vida, que queremos que absolutamente tudo dê certo, e que, às vezes, por aborrecimentos mínimos,

somos capazes de passar um dia inteiro de cara amarrada.

E aí ele deu um exemplo trivial, que acontece todo dia na vida da gente...

É quando um vizinho estaciona o carro muito encostado ao seu na garagem (ou pode ser na vaga do estacionamento do shopping). Em vez de simplesmente entrar pela outra porta, sair com o carro e tratar da sua vida, você bufa, pragueja, esperneia e estraga o que resta do seu dia.

Eu acho que esta história de dois carros alinhados, impedindo a abertura da porta do motorista, é um bom exemplo do que torna a vida de algumas pessoas melhor, e de outras, pior.

Tem gente que tem a vida muito parecida com a de seus amigos, mas não entende porque eles parecem ser tão mais felizes.

Será que nada dá errado prá eles? Dá aos montes. Só que, para eles, entrar pela porta do lado, uma vez ou outra, não faz a menor diferença.

O que não falta neste mundo é gente que se acha o último biscoito do pacote. Que " audácia" contrariá- los! São aqueles que nunca ouviram falar em saídas de emergência: fincam o pé, compram briga e não deixam barato.

Alguém aí falou em complexo de perseguição? Justamente. O mundo versus eles. Eu entro muito pela outra porta, e às vezes saio por ela também. É incômodo, tem um freio de mão no meio do caminho, mas é um problema solúvel. E como esse, a maioria dos nossos problemões podem ser resolvidos assim, rapidinho.

Basta um telefonema, um e-mail, um pedido de desculpas, um deixar barato. Eu ando deixando de graça...Pra ser sincero, vinte e quatro horas têm sido pouco prá tudo o que eu tenho que fazer, então não vou perder ainda mais tempo ficando mal-humorado.

Se eu procurar, vou encontrar dezenas de situações irritantes e gente idem; pilhas de pessoas que vão atrasar meu dia. Então eu uso a " porta do lado" e vou tratar do que é importante de fato.

Eis a chave do mistério, a fórmula da felicidade, o elixir do bom humor, a razão do por que parece que tão

pouca coisa na vida dos outros dá errado.

Quando os desacertos da vida ameaçarem o seu bom humor, não estrague o seu dia....Use a porta do lado e

mantenha a sua harmonia. Lembre-se, o humor é contagiante - para o bem e para o mal - portanto, sorria, e contagie todos ao seu redor com a sua alegria. A " porta do lado" pode ser uma boa entrada ou uma boa saída....

Experimente...

AFINIDADES



Afinidade é um dos poucos sentimentos que resistem ao tempo e ao depois



A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. É o mais independente também.


Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido.


Ter afinidade é muito raro. Mas, quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas.


Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavras. é receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.


Afinidade é sentir com, Não é sentir contra, Nem sentir para, Nem sentir por, Nem sentir pelo. Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. é olhar e perceber.


É mais calar do que falar, ou, quando é falar, jamais explicar: apenas afirmar.


Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças. É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas quanto das impossibilidades vividas.


Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação.


Porque tempo e separação nunca existiram. Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida.


Texto de Arthur da Távola



PEQUENA FABULA SOBRE DEUS E O MUNDO PARA CRIANÇAS



Quando uma criança me faz uma aquelas perguntas metafísicas fundamentais que vem à cabeça de todas as crianças: “De onde veio o mundo?” “Por que razão Deus fez o mundo? “Onde estava eu antes de nascer? “Onde vão as pessoas quando morrem?” Vez após vez, tenho verificado que as crianças parecem ficar satisfeitas com uma história muito simples e antiga, que é mais ou menos assim:


Nunca houve um tempo em que o mundo começou, pois o mundo dá voltas e voltas, como um círculo, e o círculo não tem ponto algum de especial onde começa. Olhe para o seu relógio, que diz o tempo; o ponteiro também dá voltas e voltas, da mesma forma como o mundo se repete sempre, dando voltas e voltas. Mas, tal como o ponteiro sobe até o meio-dia e, depois, desce às seis horas, também há dia e há noite, também há o sono e o despertar, viver e morrer, verão e inverno. Não é possível ter uma destas coisas sem ter, também a outra – pois não seria possível saber o que é preto se o preto não tivesse sido visto ao lado do branco, ou o que é branco se este não tivesse sido visto ao lado do preto.

Dá mesma forma, há períodos em que o mundo existe e momentos em que ele não existe, pois se o mundo continuasse sempre dando voltas, sem nunca descansar, ficaria horrivelmente cansado. Assim, vai e vem. Por vezes, podemos vê-lo e, outras, não. Mas, como ele não se cansa de si mesmo, volta sempre, depois de desaparecer. É como a nossa respiração: o ar entra e sai, entra e sai – E quando procuramos parar de respirar, sentimo-nos mal. É também, como o jogo de esconde-esconde, pois é sempre divertido encontrar novas formas de nos escondermos e de procurarmos alguém que não se esconde sempre no mesmo lugar.

Deus também gosta de brincar de esconde-esconde, mas como não há coisa alguma fora de Deus, ele só pode brincar consigo mesmo. Contudo, ele passa por cima dessa dificuldade, fingindo que não é ele mesmo. Essa é a maneira que ele tem de se esconder de si próprio. Finge que é você e eu e todas as pessoas do mundo, todos os animais, todas as plantas, todas as rochas, todas as estrelas. Desta forma, tem estranhas e maravilhosas aventuras, algumas delas terríveis e assustadoras. Mas estas são apenas como pesadelos, pois desaparecem quando ele acorda.

Agora, quando Deus brinca de se esconder e finge que é você ou eu, esconde-se tão bem que demora muito tempo a lembrar-se de onde e como se escondeu. Mas essa é a parte mais divertida – trata-se exatamente do que queria fazer. Não quer encontrar-se demasiado depressa, já que isso estragaria o jogo. É por isso que é tão difícil, para você e para mim, descobrirmos que somos Deus disfarçado, fingindo que não é ele. Mas quando a brincadeira já durou muito, todos nós acordamos, paramos de fingir e recordamos que somos todos um só ser – o Deus que é tudo aquilo que existe e que vive para sempre e sempre.

É claro, você tem de recordar que Deus não tem o aspecto de uma pessoa. As pessoas têm pele e tem quase sempre alguma coisa por fora de sua pele. Se não tivessem, não saberíamos qual é a diferença que existe entre o que está dentro e fora de nossos corpos. Mas Deus não tem pele ou forma, pois não há coisa alguma fora dele. (Com uma criança suficientemente inteligente, costumo ilustrar isto com uma fita de Möbius – um anel de fita de papel torcida de tal maneira que fica com apenas um lado e uma borda.) O interior e o exterior de Deus são iguais. E, apesar de estar falando de Deus como “ele” e não “ela”, Deus não é um homem ou uma mulher. Também não posso dizer que é uma “coisa”, já que, geralmente usamos uma palavra para algo que não tem vida.

Deus é o ser do mundo, mas você não pode ver Deus, pela mesma razão que não deixa você, sem um espelho, ver seus próprios olhos; da mesma forma, também, como você não pode morder seus próprios dentes ou olhar dentro de sua cabeça. Seu ser está escondido muito inteligentemente porque é Deus escondendo-se.

Você poderá perguntar porque razão é que Deus, por vezes, se esconde na forma de pessoas horríveis ou finge ser pessoas que sofrem doenças graves e grandes dores. Pense, primeiramente, que ele só está fazendo isso a si próprio, não a outra pessoa. Recorde, também , que em quase todas as histórias de que você gosta tem de haver gente ruim e gente boa, pois a emoção da história é descobrir como é que a gente boa vai levar a melhor sobre a gente ruim. O mesmo acontece quando jogamos cartas. No começo do jogo, misturamos todo o baralho e as cartas ficam numa imensa desordem, que é como as coisas ruins do mundo, mas a intenção do jogo é voltar a ordenar as cartas e acabar com essa desordem, e aquele que o fizer melhor será o vencedor. Depois, voltamos a embaralhar as cartas e jogamos uma vez mais – e é isso que sucede com o mundo.

(Alan Watts – Tabu: o que o impede de saber quem você é )

De Socrates


A quem posso chamar de educado


Primeiro, aqueles que enfrentam bem as circunstâncias com que se deparam no dia a dia...


Depois aqueles que são honrados em suas relações com todos os homens, agüentando com facilidade e bom humor aquilo que é ofensivo para outros, então sendo tão agradável e razoável com seus companheiros quanto é humanamente possível...


Aqueles que tem seus prazeres sob controle e não acabam derrubados por suas infelicidades...


Aqueles a quem o sucesso não estraga, que não fogem do seu próprio eu, mas sim se mantém firmes, como homens desabedoria e sobriedade.


(Sócrates)